Serena Williams, Naomi Osaka e os dilemas do saibro

Serena Williams, Naomi Osaka e os dilemas do saibro

Publicado por Alexandre Cossenza, 13/05/2021

Acontece quase todo ano quando o circuito mundial chega à temporada europeia de saibro. Quem conquistou grandes resultados no Australian Open e na dupla Indian Wells-Miami sofre na terra batida, enquanto surgem e ressurgem as eternas candidatas a título em Roland Garros.

Não vale para todo mundo, obviamente. Ashleigh Barty, atual número 1 do mundo, foi campeã em Miami e em Roland Garros em 2019. E ainda venceu um torneio na grama pouco depois, mostrando sua enorme capacidade de triunfar em condições de jogo diferentes. A australiana, contudo, é exceção. O melhor exemplo para a "regra" é Naomi Osaka, atual campeã do US Open e do Australian Open e vice-líder do ranking da WTA.

Desde que chegou à Europa, a jovem de 23 anos mostrou fragilidades que ficam "escondidas" na quadra dura. Em Madri, Osaka foi eliminada na segunda rodada pela tcheca Karolina Muchova, #20 do mundo. Hoje, em Roma, caiu na estreia, superada pela americana Jessica Pegula (#31): 7/6(2) e 6/2.

Dona de um saque que beira os 200km/h com frequência, além de golpes muito potentes do fundo de quadra, Osaka costuma decidir os pontos com rapidez. A velocidade de sua bola é o bastante para isso no piso sintético. Subidas à rede não são seu ponto forte, algo que seu técnico já admitiu abertamente, mas a japonesa não costuma precisar andar tanto para a frente em suas partidas em quadra rápida.

No saibro, porém, o papo é outro. Como a bola perde mais velocidade no contato com o solo, o serviço de Osaka não é tão eficiente. O mesmo vale para as trocas do fundo de quadra. As adversárias alcançam mais bolas, alongam os ralis, e Naomi precisa fazer mais - e por mais tempo - para definir os pontos. Logo, ela deixa de ser a tenista quase imbatível da quadra dura para ser "apenas" uma grande atleta. É preciso fazer ajustes técnicos, táticos e sobretudo mentais para conseguir o mesmo nível de superioridade no saibro. Ajustes que não são tão simples assim.

Serena Williams também já foi eliminada do WTA 1000 de Roma. Perdeu logo na estreia para a argentina Nadia Podoroska (#44): 7/6(6) e 7/5. Com 39 anos e um corpo que tem alguns quilos acima do peso ideal, a americana não pode competir toda semana, por isso só agora, na capital italiana, disputou seu primeiro torneio do ano na terra batida. Faz sentido.

O dilema de Serena no saibro, contudo, é bem diferente do de Osaka. A americana conquistou Roland Garros três vezes (2002, 2013 e 2015). Adaptar seu jogo à terra batida não é exatamente um mistério. A questão aqui é achar um equilíbrio entre conseguir ritmo de jogo antes de um slam ao mesmo tempo em que é essencial manter o corpo descansado.

Ritmo foi justamente o que faltou contra Podoroska, uma jovem que sabe muito bem como jogar no piso (fez semifinal em Roland Garros no ano passado). Sem a movimentação de outros tempos, Serena necessita mais precisão nos ralis, mas se ela quase não compete, falta tempo para alcançar essa "calibragem" nos golpes. E, sem ela, os erros não forçados aparecem, complicando demais a vida da americana.

Há tempo para Serena treinar e se reabituar à movimentação típica do saibro, mas ela chegará a Roland Garros sem tantas horas em quadra, o que nunca é o ideal, até para alguém de seu nível. Para Osaka, o desafio é mais complexo. São mais ajustes a fazer, e o tempo é curto para quem optou por não jogar nem em Charleston nem em Stuttgart - decisão contestável para quem é jovem e precisa de mais tempo pra elevar seu tênis no piso.

Não convém duvidar muito nem de uma nem de outra. São, afinal, gigantes do esporte com feitos grandes nas costas (Osaka tem quatro slams com 23 anos). Maaaas não temam se as casas colocarem odds atraentes para derrotas precoces delas em Roland Garros!

Odds que eu acho que acho interessantes:

Nada foge muito do óbvio nas oitavas de final que começam nesta quinta-feira em Roma, então hoje vou apenas com combinadas que, embora mais difíceis de acertar, dão uma margem interessante para errar e, ainda assim, lucrar.

1) Rublev sobre Bautista Agut + Barty sobre Kudermetova + Pliskova sobre Zvonareva e Gauff sobre Sabalenka. Obviamente, a maior dificuldade aqui é esperar um revés de Sabalenka, maaas Gauff vem de uma bela vitória sobre Sakkari, enquanto a bielorrussa vem numa dura sequência de partidas. Pode ser que o cansaço, aliado à consistência de Coco, derrube a favorita. Odds de 13,940 na Pinnacle.

2) Tsitsipas sobre Berrettini + Auger Aliassime sobre Delbonis + Podoroska sobre Martic + Nishikori sobre Zverev. É uma combinada um pouco mais complicada, mas que vem com odds de 19,260 na Pinnacle. O único favoritaço do grupo é Zverev, e é justamente a vitória de Kei que deixa as odds tão atraentes. Acho que vale o risco.

3) Djokovic x Fokina com menos de 21,5 games + Nadal x Shapovalov com mais de 18 games + Auger-Aliassime x Delbonis com menos de 21,5 games. Odds de 7,050 na Pinnacle. A ideia aqui, obviamente, é apostar em uma vitória tranquila de Djokovic, um triunfo mais trabalhoso de Nadal e um duelo rápido entre canadense e argentino (espero que FAA colabore!).

4) Para quem gosta de duplas femininas: Fichman/Olmos sobre Hsieh/Mertens + Dabrowski/Muhammad sobre Gauff/Kudermetova + Aoyama/Shibahara sobre Chan/Chan. Odds de 12,36 na bet365.

5) A sonhada virada dupla: Auger-Aliassime de virada sobre Delbonis + Pliskova de virada sobre Zvonareva. Odds de 49,00 a bet365.